Primeira infância poderá ser prioridade no PPA 2020-2023
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Representantes do governo federal pediram, nesta terça-feira (12), apoio da Frente Parlamentar da Primeira Infância na construção do orçamento destinado às crianças no Brasil. A faixa etária – que vai até os seis anos de idade – poderá ser prioridade no Plano Plurianual (PPA) 2020-2023, que está em análise no Congresso Nacional e já recebeu emendas neste sentido.
Segundo o coordenador-geral de PolĂticas Sociais e Transversais do MinistĂ©rio da Economia, Alexandre Lima e Souza, a equipe econĂ´mica do governo traçou um cenário fiscal atĂ© 2023 e acomodou todos os programas dentro do teto de gastos. “Dentro de um cenário de contingenciamento, depois das despesas obrigatĂłrias, a prioridade seria a primeira infância”, explicou.
Souza participou de audiência sobre a implementação do Marco Legal da Primeira Infância no Brasil, promovida pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. O debate faz parte da programação do 7º Seminário Internacional do Marco Legal da Primeira Infância, que ocorre hoje e amanhã.
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A deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), que mediou o debate, ressaltou que os legisladores brasileiros construĂram o marco e agora acompanham sua implementação, dificuldades e gargalos, em especial as garantias orçamentárias. “Se cada gestor municipal compreender essa polĂtica pĂşblica e implementá-la, vamos ter cidades mais desenvolvidas, homens e mulheres mais felizes”, acredita.
Criança Feliz
Um programa alinhado ao marco Ă© o Criança Feliz, instituĂdo em 2016 pelo governo federal. Entre seus objetivos, estĂŁo a promoção do desenvolvimento humano a partir do apoio Ă s crianças e Ă s gestantes mais vulneráveis. A principal ação do programa sĂŁo visitas domiciliares para orientar e identificar problemas nas famĂlias e aproximá-las de projetos nas áreas de saĂşde, educação e assistĂŞncia social.
Atualmente, o programa conta com a adesĂŁo de 2.703 municĂpios em todos os estados. Quase 670 mil crianças e aproximadamente 135 mil gestantes já foram beneficiadas com as visitas das equipes formadas por 22 mil profissionais em todo o PaĂs.
Segundo a secretária de Promoção do Desenvolvimento Humano do MinistĂ©rio da Cidadania, Ely Harasawa, o programa veio com o objetivo de “quebrar o ciclo da pobreza”. “Temos muitos desafios. A intersetorialidade Ă© o tema do momento, mas Ă© difĂcil de ser implementada. Por várias questões, de fazer caber na agenda de cada pasta. Mas isso exige tambĂ©m uma mudança de olhar e de cultura”, defendeu Ely, ao falar dos diversos temas que perpassam a primeira infância.
A deputada Daniela do Waguinho (MDB-RJ), que sugeriu o debate, tambĂ©m defendeu a integração das polĂticas pĂşblicas, para dar dignidade Ă s crianças. “Precisamos mudar o inĂcio da histĂłria. Primeira infância Ă© uma janela de oportunidade para que eles tenham um futuro melhor”, afirmou.
Desafios
Os desafios para promover a primeira infância no Brasil passam pelo enfrentamento da mortalidade infantil e pela garantia do acesso a creche, por exemplo. Dados da Pesquisa Anual por Amostra de DomicĂlios ContĂnua 2018 (PNAD-ContĂnua) indicam que 6,7 milhões de crianças de zero a trĂŞs anos nĂŁo frequentam creche no Brasil, o que representa 66% da população dessa faixa etária. Mais de um quarto nĂŁo frequentam a educação infantil por falta de escola perto de casa ou por falta de vaga.
O deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) considerou “crueldade” delegar a educação infantil aos municĂpios, por serem os entes da Federação com menos recurso. “Isso faz com que as oportunidades dependam de onde vocĂŞ nasce e da famĂlia onde vocĂŞ nasce. No resto da educação, a gente fala de qualidade, mas na creche a gente fala de acesso”, comparou. Para ele, o novo Fundeb (PEC 15/15), que está em análise na Câmara, pode fazer com que a matrĂcula na creche tenha um olhar da UniĂŁo.
Os tribunais de contas do PaĂs monitoram o desenvolvimento de programas voltados Ă primeira infância e emitem alertas de advertĂŞncias aos administradores que nĂŁo estĂŁo cumprindo as metas do Plano Nacional de Educação. “Precisamos dar uma atenção especial Ă primeira infância. O Nobel de economia [James Heckman, vencedor em 2000] diz que Ă© uma desinteligĂŞncia nĂłs nĂŁo investirmos na primeira infância”, lembrou o auditor do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul, Leo Arno Richter.