Mapa da violĂȘncia2016: Negros morrem 2,6 vezes mais que brancos por armas de fogo
O nĂșmero de pessoas negras mortas por armas de fogo no Brasil Ă© 2,6 vezes maior que o de pessoas brancas. O dado faz parte do Mapa da ViolĂȘncia, levantamento que tambĂ©m mostra que entre 2003 e 2014, enquanto houve queda de 27% nas taxas de mortalidade de brancos por esta causa, houve aumento de 9,9% nas de negros.
O Mapa da ViolĂȘncia compĂ”e uma sĂ©rie de estudos feitos pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, desde 1998, tendo como temĂĄtica a violĂȘncia no Brasil. Waiselfisz Ă© vinculado Ă Faculdade Latino-Americana de CiĂȘncias Sociais (Flacso).
Conforme o estudo, no ano de 2003, em nĂșmeros absolutos foram 13.224 homicĂdios por armas de fogo que vitimaram pessoas brancas, e, em 2014, esse nĂșmero caiu para 9.766. Em contrapartida, o nĂșmero de vĂtimas negras passou de 20.291 para 29.813. Entre os brancos a taxa de mortos a cada 100 mil habitantes caiu de 14,5 para 10,6 e entre os negros saltou de 24,9 para 27,4.
QUESTĂO RACIAL
Para o vice-presidente do FĂłrum Brasileiro de Segurança PĂșblica, Renato SĂ©rgio Lima, a questĂŁo racial no Brasil precisa ser encarada de frente. âTemos um problema racial grave que permite que negros sejam mais mortos que brancos, o estado precisa mostrar que nĂŁo hĂĄ racismo fazendo com que o risco da população seja pequeno e seja igual para todos os segmentos, cores/raçasâ, disse.
O especialista diz que, ao contrĂĄrio do que alguns defendem, a questĂŁo principal nĂŁo Ă© a renda e sim a raça. âMesmo entre os pobres, os negros sĂŁo mais mortos que os brancos. A questĂŁo Ă© que hĂĄ um problema racial e precisa ser encarada de frenteâ.
JOVENS
O estudo aponta que, historicamente, as mortes por armas de fogo sĂŁo concentradas entre jovens de 15 a 29 anos. Enquanto em 1980, entre todos os homicĂdios por armas, 51,8% tiveram vĂtimas jovens, em 2014 esse nĂșmero chegou a 58%. A proporção aumentou entre 1980 e 2004, quando chegou ao pico de 60,9%, apresentando leve queda atĂ© 2014.
Em nĂșmeros absolutos, no conjunto total da população, o nĂșmero de homicĂdios por armas de fogo passou de 6.104, em 1980, para 42.291, em 2014: crescimento de 592,8%. Mas, na faixa entre 15 e 29 anos, houve um salto de 3.159, em 1980, para 25.255, em 2014: crescimento de 699,5%.
Renato SĂ©rgio Lima ressalta que a violĂȘncia Ă© um problema extremamente grave no Brasil e apesar de afetar a todos, nĂŁo atinge de forma igualitĂĄria. âMesmo com esses nĂșmeros absurdos, estes fatores [jovens e negros morrerem mais] acabam sendo usados em debates ideolĂłgicos. O homicĂdio no Brasil tem cor e idadeâ, disse o especialista.
SEXO
O estudo tambĂ©m aponta que 94,4% dos brasileiros mortos por armas de fogo sĂŁo homens. Segundo Lima, o homicĂdio Ă© um crime masculino e essa proporção de mulheres mortas tambĂ©m revela um quadro preocupante. âIsso nĂŁo quer dizer que 6% de mulheres seja pouco. Pelo contrĂĄrio, porque reconhecendo que esse crime Ă© masculino, ter essa proporção de mulheres assassinadas mostra o quĂŁo grave Ă© a violĂȘncia, jĂĄ que atinge atĂ© pessoas que nĂŁo estariam sujeitas a esse tipo de crimeâ.
Segundo o especialista, em nĂșmeros absolutos, o Brasil Ă© o paĂs que mais tem homicĂdios em todo mundo. Em termos proporcionais, fica em cerca de dĂ©cimo lugar neste ranking. âA gente tenta tapar o sol com a peneira, fica ideologizando a discussĂŁo, ela se torna uma batalha polĂtico-partidĂĄria e acabamos nĂŁo enfrentando o problema de buscar solução e parceria como um problema de estado e nĂŁo de governo. Ficamos buscando um salvador da pĂĄtria, mas sem fazer a lição de casa, que Ă© buscar modernizar nossa ĂĄrea da segurança pĂșblica, induzir a cooperação e a integração das instituiçÔes e fazer com que as pessoas que trabalham na ĂĄrea possam trabalhar de forma mais eficiente. Precisamos usar os recursos, que nĂŁo sĂŁo poucos, mas insuficientes. Precisamos nos indignar com esse nĂșmero absurdo de homicĂdiosâ, disse.