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Quilombo Pitanga dos Palmares – Cultura, história e luta

Por: Ademário Ribeiro | Contribuição: Comunidade Quilombola de Pitanga – site | SFO – Simões Filho Online | Ascom Simões Filho

Quilombo Pitanga dos palmares – Reconhecida como comunidade quilombola há três anos pela Fundação Cultural Palmares, o distrito Pitanga dos Palmares tem população em mais de duas mil famílias e concentra sua renda na pesca e no artesanato, a exemplo da piaçava e biscuit, dentre outros.

O Quilombo de Pitanga dos Palmares é uma região rica em cultura, história, com certeza é lugar que merece valorização das matrizes etnohistóricas deste povo guerreiro.

CENÁRIO E A CERTIDÃO QUILOMBOLA
Em Pitanga dos Palmares, localidade do município de Simões Filho, fazendo divisa com o município de Camaçari. No dia 05 de junho de 2005 a Fundação Cultural Palmares/MinC, promoveu a cerimônia de entrega da certidão de auto-reconhecimento para a Comunidade Remanescente do Quilombo de Pitanga dos Palmares. Se esta região rica em cultura, história, natureza pródiga já merecia os cuidados e promoções ainda mais agora nossas atenções deverão esta mais que redobradas no sentido da preservação e valorização das matrizes etnohistóricas deste povo .
ARTESANATO
Foto: Comunidade Quilombola de Pitanga
VASOS DECORATIVOS: SÃO MANDALAS DE TODOS OS TAMANHOS UMA VARIEDADE DE PEÇAS DE DECORAÇÃO porta copo, porta gelo, porta pratos, bandejas, coxe pool, berimbau, brincos, porta jóias, bolsas e etc. Todas estas peças São confeccionadas manualmente pelos artesãos da comunidade do Quilombo Pitanga de Palmares. Fonte: Comunidade Quilombola de Pitanga
CULTURA
QUEM É, DE ONDE VEM E PORQUE SE DANÇA
Foto: Comunidade Quilombola de Pitanga
“Ô de Casa, ô de fora, Maria, vem ver quem é…” é A Tradição da Dança ou Roda de São Gonçalo – uma Manifestação da Cultura Popular das mais encontradas nos estados brasileiros, inclusive em municípios baianos, notadamente na região do Rio São Francisco e no Recôncavo. Em Simões Filho no distrito de Pitanga de Palmares em 1986 o Incansável e Saudoso Mestre Nelson de Araújo a registrou em seu livro “Pequenos Mundos – Uma Panorâmica da Cultura Popular na Bahia”. Tradicionalmente o evento acontece no dia 10 de janeiro, dia da morte do eremita Gonçalo em Amarante, Portugal em 1259, e nascido em 1187, em Simões Filho, particularmente, varia em virtude dos gastos com final de ano e de ano novo, orçamento do poder público, etc – os recursos para prover a estrutura necessária não chegam em tempo de manter essa data.

PORQUE E POR QUEM SE DANÇA E QUANDO PAROU
Foto: Comunidade Quilombola de Pitanga
Na Dança de São Gonçalo daqui – o agradecimento ao Santo Gonçalo é marcado pela fartura das colheitas da mandioca e da cana-de-açúcar. Ele é também reverenciado, pela cura de picadas de cobras, pelo trabalho de parto e em proteção aos músicos.

Essa manifestação popular foi reprimida entre 1720 e 1728 na Bahia e depois retomada a perseguição em 1839. O beato e ou eremita Gonçalo não era popular apenas em seu Portugal, assim também na Península Ibérica, ele, São Gonçalo (de Amarante), teria vivido entre 1187 e 1259 e doado sua riqueza aos pobres, contudo a igreja não o canonizaria por ele ter a fama de festeiro e protetor das meretrizes. Tanto lá em Portugal como no Brasil, a Festa tinha o agrado popular, mas era cercada de preconceitos pelas autoridades da época.
A cultura da cana-de-açúcar foi um traço forte da presença portuguesa nesta região de Cotegipe (depois Água Comprida, hoje Simões Filho), com engenhos, casarões e igrejas – terras de índios de diversas etnias e predominadas pelos Tupinambá – para as quais vieram também as etnias africanas, Bantus que em muito povoaram o recôncavo Baiano, inicialmente, através dos navios Negreiros, também chamados de Tumbeiros.
PRECURSOR DA DANÇA QUE VEIO COM A COLÔNIA
Foto: Comunidade Quilombola de Pitanga
Sr. Matias dos Santos ou Sr. Aristides, um caboclo forte e carismático, nos contava que aprendera a Dança de São Gonçalo, rezas, conhecimentos para o uso das ervas e outras manifestações culturais como: Bumba Meu Boi, Samba de Viola, Queima das Palhinhas, Baile das Pastorinhas, Dança de Engenho, Dança da Loba, A Lenda do Boiuçu, etc, – desde a sua mais tenra infância com um ancião, antigo morador desta localidade onde a festa já era tradicional na Fazenda Mocambo (hoje está embaixo das águas da Bacia Joanes II que também engoliu o Rio Imbirussu).

Essas manifestações culturais estimam-se sua existência há mais de um século e meio quando outros acreditam que elas já viessem incorporadas no fazer e traço dos segmentos do Brasil Colônia.

Sr. Matias era o Capitão do Bumba-Meu-Boi, Rezador, Cantador e Dançarino. Na Dança de São Gonçalo ele era o Mestre e contava ainda com duas Rainhas, dois Reis, Pastoras e Pastores, Tocadores e duas adolescentes (Rosas Meninas) encarregadas de jogar Folhas de São Gonçalinho sobre o povo. Folhas estas usadas para acelerar o Trabalho de Parto. Além de outros benefícios do beato de Amarante, era devotada a ele a proteção às parturientes. Em Portugal, os brincantes de São Gonçalo jogam pães aos que assistem a Dança, assim, imortalizam o gesto humanístico do eremita Gonçalo que jogava pães aos leprosos de uma certa região daquele país.

A DANÇA E SUA MESTIÇAGEM

O ritmo das violas, pandeiros e das palmas favorece os meneios das cadeiras, soltando os quadris e de suaves “umbigadas”. As ladainhas e loas puxadas pelo Mestre e respondidas pelos pares e populares nos inserem numa atmosfera e cenários coloniais – período em que os portugueses espalharam pelo Brasil esta Manifestação de caráter Religioso e Cultural onde as vozes africanas e indígenas mesclaram suas contribuições.

OS HERDEIROS CULTURAIS
D. Berna e D. Dandinha do Quilombo Pitanga de Palmares em Simões Filho (BA
Quando Mestre Matias (também conhecido por Seo Alcides), faleceu em setembro de 1997, já tinha “passado” em definitivo as incumbências e saberes para Bernadete Pacífico Moreira, presidente da Associação de Moradores de Pitanga de Palmares que junto aos outros herdeiros, perfazem três gerações entre pais, filhos e netos. Ela aprendera outras “sabenças” com sua mãe D.Maria Alvina do Nascimento, como o Baile das Pastorinhas – as quais esta teria aprendido de sua mãe D. Maria Faustina do Nascimento, nascida neste povoado e praticante das Danças na Fazenda Mocambo. É a riqueza oral e cultural passada de pais para filhos e netos.
Além do apoio que recebem da Prefeitura local, esta tradição e outras como Samba de Viola, Dança do Engenho e Bumba-Meu-Boi dependem muito de que apoiemos Bernadete e aqueles que são os Fundadores e continuadores destas Manifestações. Sugerimos uma Assessoria de Acompanhamento e Marketing para ações permanentes de Apoio e Preservação destas Manifestações Culturais – Patrimônio do povo!

DESAFIO – ETNODESENVOLVIMENTO
Hoje, em 18 estados brasileiros, são aproximadamente mil Comunidades Remanescentes de Quilombolas e seu ídolo maior foi o Zumbi dos Palmares. Pitanga dos Palmares e Dandá em Simões Filho – Bahia, junto às já reconhecidas, contarão com um conjunto de leis que determinam por estarmos assegurando-lhes a plena cidadania. Então, mais que nunca, todos os projetos e ações locais devem passar por esta mística. Na busca de sustentabilidade surgiu um novo conceito: “tecnologia social” – na qual compreendemos que produtos, técnicas ou metodologias sejam desenvolvidas na base da comunidade em foco. Afinal, não pode haver desenvolvimento e transformação social se as pessoas não estão envolvidas e participando coletivamente nestes processos de organização, proposição, desenvolvimento e implementação de projetos e ações.
Dona Cândida de 73 anos, quilombola da Comunidade Pitanga dos Palmares
Foto: Juliana dias
Qualquer metodologia nas comunidades deve permear o-seu-ser-o-seu-fazer-o-seu-modo-de-cultura-e-o-seu-local como tentativa de responder à emergência da salvaguarda do seu patrimônio oral e imaterial com ênfase aplicada à garantia de suas vidas e promoção de ocupação e renda! Atitudes assim, de reformulação e ações estruturantes requerem investimentos e parcerias cada vez mais intensas e sistematizadas que respondam positivamente às demandas e à velocidade do mundo atual. Enfim, para isto ocorrer é urgente partir do vigor e brilho das festas para a responsabilidade social e política que transforme o ser humano, suas tradições e seus recursos naturais em práticas cotidianas de ampliação da qualidade de vida!UM POUCO DO QUE AINDA HÁ EM PITANGA DOS PALMARES
A Dança da Loba; Samba de Viola; Queima das Palhinhas; Baile das Pastorinhas; Dança de Engenho; Dança da Loba; – A Lenda do Boiuçu.
Viva e reviva São Gonçalo!
O folclore simboliza a cultura popular e apresenta grande importância na identidade de um povo, de uma nação. Para não se perder a tradição folclórica, é importante que as manifestações culturais sejam transmitidas através das gerações. Fonte: Ascom Simões Filho
Fontes
*Ademario Ribeiro é Sertanejo das Terras dos Payayá, filho de Amélia Souza Ribeiro e de Alberto Severiano Ribeiro (in memoriam)… Escritor (poeta e teatrólogo), diretor teatral, educador ambiental, pesquisador dos povos indígenas e pedagogo.

Membro, conselheiro e fundador de diversos coletivos entre estes: Associação ARUANÃ, Associação Muzanzu do Quilombo Pitanga de Palmares, Diroá – AssEArIn,entre outras organizações. Tem publicações diversas em jornais e sites.
Contribuição: *Ascom Simões Filho | *Comunidade Quilombola de Pitanga

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