Reforma da aposentadoria prevĂȘ reajuste somente para alguns militares, entenda – O parecer do deputado Vinicius Carvalho (REPUBLICANOS-SP), relator das mudanças no sistema de proteção social das Forças Armadas (PL 1645/19), indica que a proposta prevĂȘ reajustes salariais acima de 40% em alguns casos. O texto, de autoria do Poder Executivo, tambĂ©m determina uma reestruturação das carreiras militares.
O subtĂtulo do parecer âAperfeiçoamento da compensação remuneratĂłria do militar das Forças Armadasâ menciona dois casos: 1) do suboficial (ou subtenente) com Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos; 2) do coronel (ou capitĂŁo-de-mar-e-guerra) com habilitação de Altos Estudos I, na prĂĄtica o final da carreira militar para praças e oficiais, em nĂvel mĂ©dio e superior, respectivamente.
O parecer explica que, atualmente, um suboficial com essa formação recebe 73,75% do salĂĄrio mĂ©dio das carreiras civis de Estado de nĂvel tĂ©cnico. Se o projeto for aprovado, em 2023 esse suboficial passarĂĄ a receber 104,66% daquela mĂ©dia, uma variação de 42%. Assim, terĂĄ salĂĄrio superior ao dos civis com formação equivalente.
JĂĄ um coronel com altos estudos, diz o relator, recebe atualmente 63,51% do salĂĄrio mĂ©dio das carreiras civis de Estado de nĂvel superior. Com a aprovação da proposta, em 2023 passarĂĄ a receber 94,25% em relação Ă quela mĂ©dia, uma variação de 48%, e continuarĂĄ com salĂĄrio inferior ao dos civis com formação equivalente.
âEm tempo de paz, o patriotismo, por si sĂł, nĂŁo pode ser considerado como uma motivação unicamente suficiente para proporcionar a adequada atração e retenção nas carreiras militaresâ, escreveu Vinicius Carvalho.
Impacto da proposta
A proposta em anĂĄlise na CĂąmara dos Deputados nĂŁo explicita os percentuais de reajuste, pois remuneraçÔes militares sĂŁo âpersonalĂssimasâ â envolvem adicionais e gratificaçÔes decorrentes de tempo de serviço, cursos, atividades e localidade, entre outras, que incidem sobre o soldo, a remuneração bĂĄsica de cada posto ou graduação.
O texto original do Poder Executivo sĂł aponta o impacto financeiro da proposta. SerĂŁo R$ 4,73 bilhĂ”es em 2020, ou R$ 101,76 bilhĂ”es em dez anos. Os militares sĂŁo a Ășnica carreira do serviço pĂșblico com reajuste salarial previsto para o prĂłximo ano.
Ao justificar o reajuste salarial, o governo argumentou que os militares das Forças Armadas tiveram perdas desde 2001, quando a Medida ProvisĂłria 2215-10 reestruturou as carreiras pela Ășltima vez. De lĂĄ atĂ© janeiro, o soldo do suboficial teve aumento acumulado acima da inflação (IPCA) de 7,7%. No caso do coronel o aumento real Ă© de apenas 1,0%.
TrĂȘs vezes por ano, por força de uma portaria do extinto MinistĂ©rio do Planejamento, as Forças Armadas divulgam a remuneração mĂ©dia dos militares ativos e inativos, bem como o que foi gasto no pagamento de cada adicional ou gratificação. Os dados mais recentes sĂŁo de agosto, para ExĂ©rcito e Marinha, e de abril, no caso da AeronĂĄutica.
Criticas – Mais pontos do PL
Os deputados Glauber Braga e Marcelo Freixo, ambos do Psol do Rio de Janeiro, apresentaram voto em separado em que recomendam a rejeição parcial do PL 1645/19, sem citar os trechos que deveriam ser excluĂdos. No documento, criticam as linhas gerais do texto, mas destacam a ocorrĂȘncia de reajustes salariais diferenciados.
âO projeto reforça uma estrutura remuneratĂłria que relega a segundo plano a importĂąncia dos graduados, inclusive os militares mais antigos e experientes, ao percebimento de remuneração inferior aos jovens aspirantes a oficiais, que acabaram de ingressar na carreira militarâ, afirmam os parlamentares no voto.
âSe, por um lado, a reestruturação da carreira favorece as altas patentes, de outro os ĂŽnus da reforma no sistema de proteção dos militares sĂŁo linearesâ, continuam. âCabos e soldados, que tĂȘm remuneração menor, pagarĂŁo a mesma alĂquota das altas patentes, o que, dentre outros, caracteriza o carĂĄter regressivo da proposta.â
Segundo o MinistĂ©rio da Defesa, a proposta estimula a meritocracia e Ă© autossustentĂĄvel. O MinistĂ©rio da Economia estima que as mudanças resultarĂŁo, como saldo lĂquido, em uma economia para a UniĂŁo de R$ 10,45 bilhĂ”es em dez anos. A reforma da PrevidĂȘncia dos civis (PEC 6/19) economizarĂĄ mais de R$ 800 bilhĂ”es em igual perĂodo.